sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pondé: O pessimista e sua felicidade em ser infeliz

Eu estou pensando que talvez tenha gostado do novo livro de Luiz Felipe Pondé ("Contra um mundo melhor").
Logo nas primeiras páginas dei risadas que se ouviam da rua e depois, mesmo as risadas se arrefecendo em alguns pontos e voltando a carga em outros, minha conclusão até aqui é que o livro é, apesar de não explicitamente proposto, uma grande piada que deve ser levada a serio.
Pondé quer ser Nelson Rodrigues e Nietzsche, Santo Agostinho e Freud e um monte de autores da linha filosófico-intelectual-citados-nas-conversas-de-bar.
Isso não o diminui.
Na sua busca por tirar um estrato pessoal do pessimismo de cada um, somos contemplados com uma nova idéia que os transcende em alguns aspectos, mesmo que os diminua em outros.
Me identifiquei.
Acabo de oferecer à minha irmã dois livros antagônicos sobre um mesmo assunto.
A primeira pergunta dela foi: "Isso não vai confundir minha cabeça?"
Eu disse que não, porque "apresentaria dois lados de um mesmo assunto" e ela poderia "tirar sua própria conclusão".
Mal sabe ela que o eu queria mesmo era confundi-la.
A confusão é sublime.
A dúvida é sublime.
O pessimismo e o destempero, seus "irmãos-caim".
Nós não temos idéia do quanto é formidável estar profundamente confuso e com um monte de dúvidas.
Pondé é bom pra quem quer se confundir.
Portanto é um veneno mortal para a humanidade.
Professor, filósofo e psicanalista (e careca - o que o faz, até fisicamente, um "proto-alter ego" meu).
É um cara que cospe em você.
Fala na primeira pessoa e sempre está com o dedo em riste dizendo: Você é um bosta! Você é uma merda boiando no Rio Tietê!
A gente sorri, como quem pensa ser uma brincadeira.
Como um menino que acaba de perceber que tem que usar óculos e é chamado de quatro olhos na escola.
São tapas na cara e chutes no saco (porque as mulheres nunca entendem o significado de um chute no saco?).
Isso me traz profundo contentamento (desde que não seja o meu saco).
Quando fala sobre as "Mentiras da Pós-modernidade", o "Fetiche da Felicidade" e o status quo social completamente hipócrita em que estamos inseridos ele me torna uma pessoa menos solitária.
Aliás, este é um ponto negativo: Pondé me tirou da solidão.
Não esta solidão do "senso comum".
Minha solidão não é em relação a companhia de pessoas: sou cercado de amigos, inimigos, parentes e mulheres (como um bom quarentão solteiro com algum dinheiro e carro zero).
Falo da solidão que nos faz ouvir uma música ruim, tocada por músicos ruins e dar valor nisso só porque ninguém conhece.
A mesma solidão de ler um escritor bunda, mas que é "cult" (não me refiro a Pondé. Nem a sua bunda)...
Todo o movimento ("termo-grife"= cena) underground ou cult é uma busca pela solidão e isolamento.
Dizem que é uma busca pela identidade.
Mas é por isolamento mesmo.
Pela ilusão narcísica do abandono onde não encontramos ninguém além do pálido reflexo do umbigo.
Queremos estar sozinhos na barriga da nossa mãe, ou pendurados em seu peito - porque o resto não nos importa (Gikovate e Lakan iriam adorar isso).
E agora, vem este babaca e me diz nitidamente e com todas e mais algumas letras que não estou sozinho.
Ia elogiá-lo, mas prefiro pichar seu trabalho por me tirar da solidão e da ilusão.
Ia aclamá-lo como gênio mas, seria o mesmo que subir alguns degraus pessoais na minha identificação: Ele fala com minha boca, escreve com minhas mãos.
Por isso, desde já a raiva junguiana ou Frommiana calcada no maldito "Inconsciente coletivo ou social" ou a "sincronicidade" apócrifa do primeiro que traduzo na mais pura e venenosa inveja.
Como pode alguém escrever tudo o que quero e não consigo?
Nada mais apropriado do que odiar Luiz Felipe Pondé...
Espero que isso mude até o final da leitura do livro.
Mas não estou muito otimista quanto a isso.

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