Nós não somos ímãs ambulantes.
Pensar assim é desconsiderar o fato de que fazemos parte de um todo, que vivemos em sociedade, que estamos interligados. Pensar que somos ímãs é pisotear em descobertas científicas que vão desde a moderna neurociência até ao inconsciente coletivo de Jung.
Quem vive por aí vomitando palavras (alheias) que "nós atraímos tudo o que ocorre em nossas vidas" não conhece a magnitude da existência humana e tampouco reconhece a atuação do meio no ser.
Dizer que somos ímãs ambulantes é nos isolar de todo o mundo e do mundo como um todo.
Ora, hoje descobri que meu presidente é ruim e que ele rouba a todos. Pergunto: do que vai me adiantar eu ficar fazendo exercícios de Lei da Atração para que eu tenha outro presidente? Qual o meu poder pessoal para mudar um presidente da noite pro dia? Eu, necessariamente terei que esperar um levante nacional como o impeachment para que ele saia de lá ou terei que esperar as eleições e contar com o voto de todos pra que saia. Caso contrário acontece o que aconteceu: ele é reeleito!
Uma falha grave destes "mestres" da Lei da Atração é não considerar a aplicabilidade de suas técnicas de forma coletiva. E eles nem estão preocupados com isso, só falam do individual. Eu, eu, eu.
Boa parte do que escrevem está nadando contra a maré atual que é pensar globalizado.
E, acreditem, esses pensamentos que eles estão pregando, mesmo sendo falhos e carentes de embasamento científico e até ético, fazem parte do equilíbrio da vida.
O que mais se fala atualmente é sobre a ação do homem sobre o meio ambiente e as possíveis consequências globais destas ações, ou seja, a usina de carvão na China prejudica a minha plantação de alface em Ibitiúra de Minas. Essa é a tônica do momento: A atuação individual sobre o global.
Neste meio surge o The Secret, Esther & Jerry Hicks, Joe Vitale e outros "mestres" da Lei da Atração e pregam a volta do individualismo (individualismo não é o mesmo que individualidade) a visão estreita do eu.
Trata-se de uma prova cabal da atuação desta manifestação dual.
Neste sentido Rhonda Byrne se opõe a Al Gore, sendo cada um, a representatividade destes dois polos. A primeira com a visão todos-ímãs, só-me-importa-o-que-é-meu e o segundo com a proposta do coletivo-global.
A fragilidade deste pensamento da Lei da Atração está nos pressupostos da lei. Dentre eles a idéia macambúzia de controle dos sentimentos.
Fico triste só de pensar em um ser humano 100% feliz!
Ter controle sobre a suas emoções, como é comumente pregado em técnicas de L.A. pode se tornar algo patológico e desequilibrado. O ser humano se manifesta de maneira dual. Há nele toda as centelhas manifestadas. Ser triste por um período e feliz em outro é natural e bem-vindo. Ser calmo em determinadas situações e violento em outras é igualmente natural.
Há em nós o fator "reação" que está ligado a questões atávicas instintivas.
O que nós devemos controlar não são as emoções como um todo, mas os extremos. E isso inclui o extremo da felicidade.
Ser muito irritado ou muito calmo é um erro.
Ser muito feliz ou muito triste também.
É correto estar muito feliz no enterro de alguém que você mais ama?
Neste sentido, o "ser feliz sempre" pode até ser bonito ao se ler ou mesmo pode até ser revigorante e provocar um certo prazer. Mas é frágil e carente de análise mais profunda.
O que conta e o que deve valer é o equilíbrio.
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