Com a preocupante queda nas últimas pesquisas, Eduardo Campos e seus companheiros de partido devem estar pensando muito nesta pergunta.
Marina tinha tudo para conferir a Eduardo um holofote importante frente ao grande desconhecimento de seu nome junto ao eleitorado nacional.
A ex-petista saiu-se bem nas últimas eleições presidenciais, teve boa votação e aceitação popular.
Mesmo tendo "pipocado" em questões chave para o eleitor evangélico (quando transferiu a responsabilidade da decisão sobre o aborto), boa parte dele acreditou em sua candidatura e teria tendência a continuar apoiando neste pleito. Além disso, sua atuação junto a setores ligados ao meio ambiente poderia cair muito bem em tempos de escassez de água, com problemas que afetam grande parte do sudeste.
Seria perfeito se não aparecesse pelo seu caminho o líder da Assembleia de Deus, maior igreja evangélica do país. Pastor Everaldo subiu cerca de 300% nas pesquisas exatamente quando os números de Eduardo caíram.
A postura política de "liberal-conservador, de centro-direita, que prega o Estado mínimo" (como se auto-define o pastor) consegue abarcar parte daquela direita mais estridente que surgiu nos últimos anos e que, provavelmente, não poderá votar em candidatos como Jair Messias Bolsonaro.
Para agravar a situação, temos a total inércia do PSB e da própria Marina frente aos problemas da falta de água que preocupa em especial os paulistas. Com a sinalização de apoio do partido de Eduardo ao PSDB de Alckmin, todas as eventuais críticas e propostas alternativas ao problema, que poderiam trazer Marina para a discussão e posterior atenção de um eleitorado importantíssimo como o paulista acabam sendo enterradas.
Um dos temas centrais da campanha de Eduardo e Marina, que prega o fim da polarização PT/PSDB, carece especialmente de propostas que definem e delimitam estas diferenças. Os debates até aqui estão ainda muito superficiais e tendem a culminar no que foi regra nas últimas eleições: as plataformas quase idênticas e a discussão rasteira sobre os principais e urgentes problemas que afligem o país.
Eduardo precisa provar ser diferente e destacado do governo PT, quando até ontem era um aliado. Marina terá que rever as condições que a levaram ao terceiro lugar nas últimas eleições com quase 20 milhões de votos.
Para muitos, a expulsão de Heloísa Helena do PT em 2003, com a posterior criação do PSOL, era vista como uma busca ao aprofundamento das propostas ideológicas da esquerda que não frutificavam no partido do presidente recém-eleito.
Com Marina ocorreu o contrário. Sua saída do PT em 2010 para o ingresso no PV apontava um abrandamento ideológico, com uma versão mais "centro" e um toque de oportunismo ao se apresentar como terceira via. Sua chapa ao lado de um grande empresário do ramo de cosméticos no Brasil, iniciante na política, dava o tom de "novidade" que parte do eleitorado almejava.
Porém hoje, mediante o desgaste natural de um partido com três eleições consecutivas e dos noticiários desfavoráveis dos últimos tempos, associados aos resultados não muito satisfatórios nas políticas econômicas e na saúde em especial, o PT sofre por uma queda em aceitação e na admiração de parte do eleitorado. Com isso, não parece mais conveniente um "PT melhorado" por parte de alguns, mas a proposta de mudança substancial. Marina, que antes poderia ter este bastão na mão, pode ter sua ligação ao partido como um problema frente aos que clamam por mudanças.
Para o eleitor, a relação de "amor e ódio" tem sido a tônica. Na possibilidade de um nome realmente novo e que esteja distante da realidade vivida nos últimos anos, a opção por um pastor evangélico aponta um caminho que une os, já conhecidos, "voto de protesto" com o "recado das urnas". O "Fenômeno Enéas" que sempre se repete (mais recentemente com Tiririca).
Com isso, a sombra do PT que recai sobre Marina e Eduardo e as experiências negativas do governo do PSDB guardadas na memória de parte do eleitorado, associados ao anseio pela diminuição de tantos escândalos e problemas que apontam para a má gestão do dinheiro público, abrem caminho para uma candidatura do pastor, membro de um partido ainda muito pequeno e sem alianças.
Já se sabia dos mais de 70% do eleitorado que ansiava por mudanças, mas ainda eram poucos a arriscar se estas mudanças se traduziriam em votos para algum candidato.
Ao que parece, mesmo com a grande imprensa (fomentadora da polaridade PT/PSDB) ignorando por completo o crescimento dos votos no pastor, Eduardo e Marina terão um concorrente direto a proposta de "terceira via".
Há quem considere um grande equivoco a antecipação da chapa completa quando todos tendem a revelar os vices há poucos dias do prazo final do registro dos candidatos, evitando desgastes. Mas é inevitável constatar que Marina, até o momento, não parece transferir a Eduardo os votos que a levaram ao terceiro lugar quatro anos atrás.
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