segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Criador

Eu gosto muito desta designação sobre Deus: O Criador.
Falam que ele criou tudo o que existe. Uma verdade irrefutável.
Só me incomoda a utilização do verbo no passado. Deus "criou" tudo o que existe.
Este verbo no passado diminui muito a questão mais importante desta história: Deus CRIA.
Estou aqui pensando em como escrever mais um texto para o blog. Você está aí lendo e Ele está criando, criando.
Uma ação contínua que segue um fluxo inimaginável.
Penso nEle como uma força condensada de onde saem estrelas, galáxias, universos em uma velocidade formidável.
Deus nos mostra, por si, como deveríamos ser e nunca conseguimos.
Estamos parando o tempo todo. Estamos interrompendo nosso fluxo.
Penso nisso quando vejo pessoas em busca de um "porto seguro" ou de um "colo" ou algum "refúgio".
Se estamos em um rio de velocidade imensa, de energia que flui e se expande, de algo que sempre está em movimento, porque precisamos de um "porto seguro"? Porque esta necessidade de sempre buscar "apoio"?
Todos(as) aqueles(as) que me "pediram colo" conheceram um lado terrível meu. Um lado que poderia ser caracterizado como cruel.
Chegam a se afastar.
Mas aí você vai me dizer que Deus descansou no sétimo dia.
E eu concordo. Eu mesmo, tiro meus domingos para não "criar".
Mas como foi este "descanso" de Deus?
-Ele "contemplou" sua obra.
Percebem o significado disso?
Ele não "parou" de fazer coisas. Mas mudou a forma de fazer.
Através desta "contemplação", sua "ação" se deu na forma de pensamentos e reflexão. Acima de tudo, ao descansar, Deus "analisou" e avaliou suas ações.
Há dois ensinamentos básicos nesta questão:
  1. A relação de Deus com a ação, propriamente dita é 6 para um. Ou seja. "Agiu" 6 vezes mais do que "parou". Trabalhou por um período 6 vezes maior do que seu descanso. E não devemos negligenciar este ponto porque, normalmente fazemos o inverso.
  2. Utilizou seu descanso para uma forma de "entender" sua ação. Contemplou.
Claro que é inevitável pensarmos no "estado meditativo" e na necessidade de avaliar o que estamos fazendo.
Há registros de que Ele "interagiu" com a sua criação, ou seja, viu que "era assim" e então "fez isto" e este processo é passado como algo natural e "parte do jogo".
Sabemos que Ele sempre se adaptou ao "inesperado", como por exemplo, quando criou um homem e este homem queria uma mulher.
E outro ponto interessante: Ele terminou sua obra antes de descansar.
Este ponto de "terminar" é outro que não damos muito valor.
Há muito o que se pensar sobre estes pontos: Criar, agir muito mais do que ficar parado, adaptar, modificar mediante o inesperado, interagir com o processo, terminar o que começamos, parar, contemplar e analisar e fazer tudo isso com tremenda naturalidade.
Se soubermos refletir sobre estes pontos. Estamos bem próximos de Deus.
Você quer "criar" algo? 
Agora mesmo, apenas pensando, você já está criando. E seu pensamento, bom ou mal, suas emoções e sentimentos ditam as regras do  que é, foi e será, afinal, "Vós sois deuses".



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Búlin

Sabe aqueles moleques que te batiam na escola?
Aqueles maiores que te humilhavam e zombavam de tudo que pudessem?
Hoje suas atitudes tem grife: BÚLIN.
Eu até me recuso em escrever esta palavra em inglês.
Me recuso até a fazer o trocadilho com "bulinar".
Eu era um moleque gordo-baleia-sapato-sem-meia.
Um menino em que se fazia "bolinho de angú", onde todos gritavam esta frase e pulavam em cima de mim em dezenas, me esmagando com um peso de uns 200kg que me impedia de respirar ou me faziam encher as narinas e a garganta com a poeira do chão, associada a uma aterrorizante sensação claustrofóbica.
Minha mãe me batia, corria atrás de mim e mesmo que eu me escondesse embaixo da cama ela me cutucava com vigor com um cabo de vassoura "-Sai daí moleque e aprende a ter educação com os outros!".
Meu pai, até hoje, só percebe que existo quando tem alguma crítica bem contundente sobre qualquer coisa que faça.
Eu era feio.
Era gordo até demais.
Era desajeitado.
Tinha dois amigos em uma escola de 3000 alunos.
Nenhuma menina olhava pra mim.
Eu era o mais pobre do bairro.
Meus colegas tinham Garelli (uma bicicleta motorizada) e motos de pequeno porte - que andavam sem capacete e sem culpa - e eu uma daquelas bicicletas Monark que dobravam ao meio.
Eles empinavam e andavam em uma roda, caindo e destruindo suas Garellis, eu lustrava e colocava macarrão colorido nas raias da Monark.
Não deveria então me tornar um psicopata?
Não deveria ter matado minha mãe queimada com álcool?
Não era pra ter me tornado bandido, drogado, fascínora, malandro, maldoso, mal caráter?
Não deveria ter distúrbios mentais irreparáveis?
Deveria estar babando em uma camisa de força, xingando todo mundo.
Mas a realidade é outra.
Amo meus pais e conversamos harmoniosamente todos os dias.
Tenho uma boa empresa e uma profissão gratificante.
Não sou mais tão gordo, mas faço eu mesmo as piadas com a minha falta de cabelo.
Meus amigos ricos seguiram caminhos diferentes.
Uns estão mais milionários que seus pais.
Outros morreram em acidentes com suas motos e carros.
Alguns foram presos, outros passaram de clínica em clínica de reabilitação.
A maioria se casou.
A maioria tem filhos como eu.
Nossos filhos estão sendo ridicularizados na escola pelos mais velhos.
Quando eles crescerem vão fazer o que fizemos: ridicularizar os mais novos.
Minha maior lamentação é não ter tido a chance de, quando pequeno, dizer a minha mãe (que é uma das criaturas mais doces que conheço) que iria processá-la por maus tratos.
Me entristece o fato de saber que não poderia ser delinquente e me esconder atrás do Estatuto da Criança e do Adolescente.
O que equilibra minha tristeza é saber que hoje há crack e mais uma dezena de variedades de drogas cada vez mais letais.
Que ontem a noite uma menina de 12 anos matou com um tiro um senhor de 50 anos.
A pedofilia...Bem, graças a Deus, meus pais não eram tão religiosos e não tive que passar pelas garras de alguns padres que presenteavam meus colegas com balas e doces.
Nossos filhos estão em um mundo pior em alguns aspectos.
Tem mais chances de morrer e mais riscos do que nós.
Mas eu queria ter internet, ipad e smarthfone com 5 anos.
Queria ter todas as facilidades e tranquilidades tecnológicas.
Queria dar ctrl+c ctrl+v para fazer trabalhos escolares.
Queria ter ido a Disney ou viajar de avião pra qualquer lugar que fosse.
Porém há algo que nos une: O Búlin.
Sou a contra, claro. Politicamente correto contra.
Mas recuso a idéia de demonizar o Búlin.
Descobri que, para cortejar meninas, precisava saber todas as matérias para dar aulas particulares no meu quarto e "fiquei" com meninas que não me assumiam publicamente, mas que alguns bonitinhos, mas burros, não conseguiam nem chegar perto.
Descobri que minha bicicleta não motorizada me fazia emagrecer e me tornei ciclista.
Procurei fortalecer meus músculos na academia.
Aprendi técnicas de defesa pessoal.
Se o sou a favor do Búlin?
Já disse que não.
Apenas registro que me tornei menos fraco frente as adversidades.
Aprendi a lidar com chefes babacas.
Aprendi a me impor. Não ter medo de elevadores.
Consegui escrever livros e ter gosto pela leitura.
Aprendi o valor de ter tido pais que não me "largaram no mundo". Ao contrário, se preocuparam 100% com minha educação e com o que estava fazendo da minha vida.
Vejo que tudo o que me trazia sofrimento forjou minha vitória hoje, aos 41.
Aprendi valores, princípios e entendi que no mundo existem pessoas boas e más.
Aprendi também a diferenciar umas das outras e saber de qual lado devo estar.
Você não vai querer me perguntar novamente se sou a favor do Búlin né?
Já disse que não.
Mas não nego que tenho tido bem mais trabalho em educar meus filhos e mostrar a eles a vida como ela é.

Pondé: O pessimista e sua felicidade em ser infeliz

Eu estou pensando que talvez tenha gostado do novo livro de Luiz Felipe Pondé ("Contra um mundo melhor").
Logo nas primeiras páginas dei risadas que se ouviam da rua e depois, mesmo as risadas se arrefecendo em alguns pontos e voltando a carga em outros, minha conclusão até aqui é que o livro é, apesar de não explicitamente proposto, uma grande piada que deve ser levada a serio.
Pondé quer ser Nelson Rodrigues e Nietzsche, Santo Agostinho e Freud e um monte de autores da linha filosófico-intelectual-citados-nas-conversas-de-bar.
Isso não o diminui.
Na sua busca por tirar um estrato pessoal do pessimismo de cada um, somos contemplados com uma nova idéia que os transcende em alguns aspectos, mesmo que os diminua em outros.
Me identifiquei.
Acabo de oferecer à minha irmã dois livros antagônicos sobre um mesmo assunto.
A primeira pergunta dela foi: "Isso não vai confundir minha cabeça?"
Eu disse que não, porque "apresentaria dois lados de um mesmo assunto" e ela poderia "tirar sua própria conclusão".
Mal sabe ela que o eu queria mesmo era confundi-la.
A confusão é sublime.
A dúvida é sublime.
O pessimismo e o destempero, seus "irmãos-caim".
Nós não temos idéia do quanto é formidável estar profundamente confuso e com um monte de dúvidas.
Pondé é bom pra quem quer se confundir.
Portanto é um veneno mortal para a humanidade.
Professor, filósofo e psicanalista (e careca - o que o faz, até fisicamente, um "proto-alter ego" meu).
É um cara que cospe em você.
Fala na primeira pessoa e sempre está com o dedo em riste dizendo: Você é um bosta! Você é uma merda boiando no Rio Tietê!
A gente sorri, como quem pensa ser uma brincadeira.
Como um menino que acaba de perceber que tem que usar óculos e é chamado de quatro olhos na escola.
São tapas na cara e chutes no saco (porque as mulheres nunca entendem o significado de um chute no saco?).
Isso me traz profundo contentamento (desde que não seja o meu saco).
Quando fala sobre as "Mentiras da Pós-modernidade", o "Fetiche da Felicidade" e o status quo social completamente hipócrita em que estamos inseridos ele me torna uma pessoa menos solitária.
Aliás, este é um ponto negativo: Pondé me tirou da solidão.
Não esta solidão do "senso comum".
Minha solidão não é em relação a companhia de pessoas: sou cercado de amigos, inimigos, parentes e mulheres (como um bom quarentão solteiro com algum dinheiro e carro zero).
Falo da solidão que nos faz ouvir uma música ruim, tocada por músicos ruins e dar valor nisso só porque ninguém conhece.
A mesma solidão de ler um escritor bunda, mas que é "cult" (não me refiro a Pondé. Nem a sua bunda)...
Todo o movimento ("termo-grife"= cena) underground ou cult é uma busca pela solidão e isolamento.
Dizem que é uma busca pela identidade.
Mas é por isolamento mesmo.
Pela ilusão narcísica do abandono onde não encontramos ninguém além do pálido reflexo do umbigo.
Queremos estar sozinhos na barriga da nossa mãe, ou pendurados em seu peito - porque o resto não nos importa (Gikovate e Lakan iriam adorar isso).
E agora, vem este babaca e me diz nitidamente e com todas e mais algumas letras que não estou sozinho.
Ia elogiá-lo, mas prefiro pichar seu trabalho por me tirar da solidão e da ilusão.
Ia aclamá-lo como gênio mas, seria o mesmo que subir alguns degraus pessoais na minha identificação: Ele fala com minha boca, escreve com minhas mãos.
Por isso, desde já a raiva junguiana ou Frommiana calcada no maldito "Inconsciente coletivo ou social" ou a "sincronicidade" apócrifa do primeiro que traduzo na mais pura e venenosa inveja.
Como pode alguém escrever tudo o que quero e não consigo?
Nada mais apropriado do que odiar Luiz Felipe Pondé...
Espero que isso mude até o final da leitura do livro.
Mas não estou muito otimista quanto a isso.