A revista Veja segue com duas semanas seguidas com investidas diretas contra o direito da mulher ser mulher.
Na capa da edição 23322 - ano 46 - n. 21, Angelina Jolie e sua atitude em retirar as mamas e na capa da edição 23323 - ano 46 - n.22, o título "Filhos? Não, obrigada!".
Angelina em insana atitude, decide se mutilar devido ao medo de contrair câncer. Na matéria não há, sequer uma linha, apontando os contras de um ato tão drástico e invasivo e a revista insinua que todas as mulheres devem retirar seus seios por medo ou receio.
Mulheres saldáveis que, provavelmente, nunca terão problemas com câncer, se sentem impelidas a fazer a "cirurgia da moda" que é a retirada dos seios e implantação de silicone.
Será mesmo que nosso futuro é ver todas as mulheres do mundo ostentando sacos de "plástico" nos peitos?
Cabe aqui uma observação: não me oponho a quem prefere modificar o corpo que Deus lhe deu com cirurgias. Este é um direito de cada um(a). Mas adianto que a maioria daquelas que hoje optam pelo implante de silicone não retiram os seios. Em momento futuro, podem reverter a cirurgia, retirando as próteses e voltando a ostentar seus subjugados seios naturais.
O caso da atriz, por emblemático que é, traz a tona uma nova modalidade: a mutilação deliberada, disfarçada pelo eufemismo da "prevenção".
Ora, alguns fatores que hoje provocam câncer (especialmente os de mama) são tão desconhecidos e menosprezados que até algumas pesquisas a respeito causam certo constrangimento. Em pouco tempo, ganharão peso, por exemplo, os argumentos que apontam para a somatização. Os próprios EUA, cuja "Empty Nest Syndrome" se encontra bem difundida e documentada, já anunciam os casos recorrentes de câncer de mama (e outros) causados pela psicossomatização.
Sabemos, desde a década de 70, os comportamentos de pacientes com câncer que são semelhantes entre si. Sabemos das questões fisiológicas variadas. Já anunciamos a cura do câncer em muitos casos (se diagnosticado a tempo ou não) e já temos muito bem difundido, inclusive no Brasil, o diagnóstico que, feito pela própria mulher, indica por simples tatear com as mãos à procura de caroços, o risco da doença.
Porque então a divulgação entusiasmada de um ato tão absurdo quanto inverossímil da atriz famosa?
Será mesmo que a chamada "indústria das plásticas" se encontra em patamar de financiamento da mídia tão elevado?
Não sabemos.
Mas podemos identificar com facilidade a resposta das incautas que seguirão o nefasto exemplo de Jolie.
Por outro lado, segue a edição que enaltece as mulheres que não querem ter filhos.
Claro, destaca-se mais uma vez, o direito de todas as mulheres e seus respectivos maridos pela decisão.
Em tempos atuais, esta é uma opção sensata. Pesquisas apontam que o "custo-filho" desde seu nascimento até a maioridade, ultrapassa alguns milhões de reais.
Mas o que dizer da diminuição daquelas que querem e sonham com a maternidade?
Não vejo uma posição que seja mais exclusivamente feminina do que ser mãe.
Sequer estaríamos aqui se elas não existissem.
Portanto, em um exagero que embute certa verdade, investir contra as mães é investir contra a humanidade.
Em argumento mais contido, é se opor à mulher.
Não bastassem os tempos atuais que impelem a mulher a trabalhar em rotina extenuante onde os afazeres do lar se associam a necessidade de uma profissão e de outras atividades, segue o discurso de que "ser mãe" não é bom e que melhor é não ter filhos.
Estamos em maus lençóis, caminhando para um momento onde as mulheres se envergonham do papel de mãe e onde ser "dona de casa" é quase um crime.
Mais uma vez, tira-se a opção da mulher ser o que quer ser.
Hoje, para que a mulher não seja dona de casa, é necessário que haja outra mulher (a "secretária do lar") para seu lugar.
Para que não exerça suas funções de mãe é necessário outra mulher (babá, professora, berçarista) para seu lugar.
Criamos então a categoria elevada e não elevada de ser mulher: aquela em que é "independente", mas depende de outras mulheres e aquela que a mulher depende das mulheres independentes.
Com isso, temos a confusão de valores que coloca a mulher em duas extremidades distintas.
Vem agora a revista Veja dizendo que bom mesmo é não ter filhos.
A mulher ideal é aquela que mutila seu corpo, não casa, não tem filhos e trabalha como uma maluca pra comprar Iphone.
Estamos forjando a caricatura do que hoje se entende por "mulher moderna".
Aquela que não tem direito de ser o que é ou que se envergonha e sente diminuída. Que segue os ditames de uma moda tão efêmera quanto a dos gadgets e que segue firme e fraca rumo a sua total infelicidade, desolamento e solidão.
Ao menos é assim que pensa a Veja.