terça-feira, 12 de março de 2013

Devaneio

Um caminho de flores que não são rosas ou margaridas se abria diante de um desfiladeiro.
O sol se escondia atrás de uma das montanhas que subiam em cada um dos lados do recorte profundo. Abaixo das imponentes construções naturais, apenas o ruido tímido de um caminhar leve e cadenciado.
Uma paisagem típica.
Logo chegam a poeira e o calor.
A vereda era desconhecida e a experiência que se passava naquele momento era única, onde o que mais interessava não era saber o que estava adiante, mas diante.
Como são intrigantes os anseios que levam alguém a se perder entre estes rochedos que, outrora unidos, são partidos pelos acontecimentos geomórficos milenares.
Deste átimo de história passada, mas sempre urgente, no vento que eleva parte da rispidez do solo, um pingo que poderia ser de suor.
O sorriso das aves que comem ratos e cobras.
Misturados entre marrom e azul, verde e branco com montanhas, céu, vegetação e nuvens.
Os répteis monstrengos e jurássicos.
Em um passado presente, os rastros que se desmancharam com as lambidas do vento e esta vista grave do afastamento.
Dois momentos no tempo.
Poderia arrefecer o ar ou enrubescer a pele.
Mas, agora, a entrega ao seguir existencial.
E assim sumia.
Como miragem desértica de distância fria.
De caminho sem volta pelo pensamento irracional.
Entre a certeza de que, buscando sozinho, se refresca na companhia dos seus fantasmas.
Mesmo que seja por uma vida ou um segundo.
Ainda que não esteja mais ali e de volta ao mundo.

(Extraído do livro "Fragmentários" de Clayson Felizola)